Não era japonesa. Sua pele não era alva como neve. Seus olhos não eram amendoados. Seus traços, o tom da sua pele, a cor da sua boca, o nariz adunco e os grandes olhos castanho-esverdeados vieram até ela pelo Mediterrâneo, perpetuados há pelo menos cinco gerações.
Não era minimalista como os orientais e sim trazia o exagero dos antepassados.
Nunca vira seda, portanto sequer fazia idéia da delicadeza e preciosidade deste tecido do qual eram feitos os mais ricos quimonos.
Não era filha de gueixa, não crescera num okiya, não fora educada para as artes que uma gueixa deve conhecer e para as habilidades que deve ter como artista.
E, apesar de tudo isso, não deixava de possuir muito do que uma gueixa tem.
A função de uma gueixa, resumidamente, consiste em entreter, fazer com que homens se divirtam – não no sentido carnal, como a maioria de nós, ocidentais, imagina.
Assim como a uma gueixa cabe agradar, cabia à ela fazer com os homens (no caso dela só havia um homem) se interessassem, a achassem bela, misteriosa, respeitável, inteligente e frágil, tudo ao mesmo tempo.
Mas ser uma gueixa não era tarefa fácil. Era ainda mais difícil para ela, que não recebera treinamento desde a infância, que não possuía lindos quimonos e obis de seda, não usava um penteado elaborado e uma maquiagem delicada. Ela não tinha tempo nem dinheiro para refinar-se. Arrumava os cabelos com pressa e raramente pintava seu rosto para tornar-se admirável.
Na verdade, o que a aproximava de uma gueixa eram as atitudes, os sentimentos. A submissão, a preocupação em agradar e ser interessante. Para fazer seu danna feliz ela tinha de se modificar, deixar de lado suas futilidades, calar suas pequenas reclamações e aceitar.
Mesmo não sendo uma gueixa, ela agiria como uma, pois de certa forma nascera assim e já não havia como mudar este seu lado resignado. Ela tinha que parecer feliz para levá-lo à felicidade, embora por dentro nem tudo fosse tão ameno e belo.
Quem sabe o futuro fosse melhor.
Não era minimalista como os orientais e sim trazia o exagero dos antepassados.
Nunca vira seda, portanto sequer fazia idéia da delicadeza e preciosidade deste tecido do qual eram feitos os mais ricos quimonos.
Não era filha de gueixa, não crescera num okiya, não fora educada para as artes que uma gueixa deve conhecer e para as habilidades que deve ter como artista.
E, apesar de tudo isso, não deixava de possuir muito do que uma gueixa tem.
A função de uma gueixa, resumidamente, consiste em entreter, fazer com que homens se divirtam – não no sentido carnal, como a maioria de nós, ocidentais, imagina.
Assim como a uma gueixa cabe agradar, cabia à ela fazer com os homens (no caso dela só havia um homem) se interessassem, a achassem bela, misteriosa, respeitável, inteligente e frágil, tudo ao mesmo tempo.
Mas ser uma gueixa não era tarefa fácil. Era ainda mais difícil para ela, que não recebera treinamento desde a infância, que não possuía lindos quimonos e obis de seda, não usava um penteado elaborado e uma maquiagem delicada. Ela não tinha tempo nem dinheiro para refinar-se. Arrumava os cabelos com pressa e raramente pintava seu rosto para tornar-se admirável.
Na verdade, o que a aproximava de uma gueixa eram as atitudes, os sentimentos. A submissão, a preocupação em agradar e ser interessante. Para fazer seu danna feliz ela tinha de se modificar, deixar de lado suas futilidades, calar suas pequenas reclamações e aceitar.
Mesmo não sendo uma gueixa, ela agiria como uma, pois de certa forma nascera assim e já não havia como mudar este seu lado resignado. Ela tinha que parecer feliz para levá-lo à felicidade, embora por dentro nem tudo fosse tão ameno e belo.
Quem sabe o futuro fosse melhor.
PS.: Texto escrito após leitura de Memórias de um gueixa, de Arthur Golden.
Imagem: Dennis Stock. Geisha. Japão, 1956. Magnum Photos.
Um comentário:
E muitas mulheres ainda ambicionam um amanhã melhor, ao lado de pessoas que não são o que gostariam que fosse, em um amor nem tão amado assim, enfim protagonizando aquilo que os outros querem ver e não o que de fato elas gostariam de ser. Legal seu texto Sara. Um abraço, Jaque.
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