11 março, 2008

Pedaços de noite


Quando chegou em casa, já era quase meia-noite. Guardou as chaves do carro, a bolsa, descalçou as sandálias. Pegou uma xícara de café na cozinha e foi para a sala ligar a televisão. Tomou cuidado para não fazer barulho, pois toda família já dormia há um bom tempo.
Sentindo um frio na barriga se aproximou da janela que refletia sua imagem de maneira disforme. Abriu a janela, que rangeu, pois já não era tão nova quanto há onze anos, quando viera morar naquela casa novinha em folha. Arregalou os olhos e, muito devagar, colocou a cabeça fora da janela. Notou que a noite estava fresca e que o céu parecia de inverno, negro e cravejado de estrelas.
Não havia nenhum barulho humano vindo das ruas. Só podia escutar os teares das várias fábricas que ficavam do outro lado do rio, não muito longe da sua casa. Da grama do quintal vinham as singelas cantorias dos grilos e cigarras. Esperava ansiosa pela aparição da coruja. Mas esta, só ouviu piar de longe, assim como ouviu o grito esganiçado dos quero-queros que vivem nos arredores.
De repente, no meio do sossego da noite, ouviu um barulho parecido com uma sirene de um filme de terror. Não gostava de filmes de terror e não entendia porque as pessoas pagavam para sentir medo nos cinemas. O som da sirene foi se aproximando e vinha acompanhado de luzes piscando. Que boba, era apenas o caminhão do lixo com seus valorosos atletas. Correm, pegam o peso do que as pessoas não querem mais, arremessam na caçamba e pulam no caminhão mais uma vez. Desse jeito, sempre igual, inúmeras vezes por dia.
O caminhão do lixo se afastou e ela olhou com atenção para o morro, que servia de pasto para o pequenino rebanho que o nono tivera. Quando criança, costumava brincar ali. Agora, no topo do morro gramado havia duas casas enormes e o nono, estava muito velhinho. Mas o enorme araçazeiro que ele deixou crescer continuava no centro do morro, fazendo com que ela recordasse da sensação de liberdade que aquela colina trazia e de como era maravilhoso ser criança.
PS.:Texto feito de
uma observação noturna para a disciplina de Técnicas de
Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística II.
Imagem: Vincent Van Gogh. A noite estrelada, 1889.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo Sara! A Verinha deve ter ficado feliz e te elogiado como sempre ne? Rsrs Posso até imaginar isso... :)

Abraço e beijo, Jaque Crivilatti.

Aokittos disse...

tirando que a vera não da mais aula pra gente..rsrsrs ficou ótimo mesmo