13 março, 2007

Sobre os muros que nos cercam




Um muro é uma escolha para a visão.


Agora, observemos os muros. Onde eles estão? À nossa frente, ao redor das nossas casas e de tantas outras propriedades? Afinal de contas, o que é um muro? No meu bairro muraram até a igreja. Sinal dos tempos, necessidade ou será a materialização do que antes não se percebia? O que este tipo de edificação pode representar? Que tipo de sentimento um muro pode despertar nas culturas, nas pessoas?


Um muro é um invólucro. Uma proteção. Uma prisão. É o que agrega e segrega ao mesmo tempo. Os muros estão por toda a parte. Os homens adoram construí-los. Houve um tempo em que o faziam para se proteger, sem perceber que esta proteção trazia consigo o isolamento, o aprisionamento. De maneira radical, talvez se possa dizer que os muros são formas materiais do ego, do medo...


Mas o pior tipo de muro é aquele construído em nossos pensamentos, na frente de nossos olhos. Esses muros quase nunca são notados, passam quase que despercebidos, pois estão conosco desde que passamos a nos “entender por gente”, são erguidos pelos nossos pais (que os herdaram dos seus pais), construídos pela sociedade e também podem ser construídos por nós mesmos, algumas vezes por ignorância, outras vezes pelo conhecimento, numa tentativa inconsciente de autodefesa.


Um muro é o que limita a liberdade. Mas a liberdade tem limite? Claro que tem... a sua liberdade termina onde começa a liberdade do outro. Foi assim que me ensinaram na escola. Se for mesmo assim que as coisas funcionam, certos muros são inúteis. Afinal de contas, todas as pessoas que sabem o que é respeito, sabem o que é liberdade... então, qual a utilidade de certos muros? “Ora pois”, nenhuma.


Aposto que qualquer cidadão alemão com um mínimo de consciência concordaria com a inutilidade dos muros. Eles conhecem bem o tamanho da dor que um monte tijolos e cimento empilhados podem causar. Pergunte a um morador de Soweto o que ele acha de um muro (e aqui não me refiro ao muro material, quero dar muito mais relevância ao grande muro social que existia na África do Sul antes do fim do Apartheid, em 1990)... Um morador da bela ilha de Chipre, certamente não gosta do muro que até hoje divide sua capital Nicósia.


Já um chinês falará com orgulho da sua Grande Muralha e falará sem perceber que hoje, ele e seus concidadãos vivem numa cela, num país que quer ser grande baseado na exploração máxima do ser humano, num regime que tem se sustentado desde o início do século passado na construção de muros... Primeiro, veio o “comunismo salvador”, agora a China quer ser capitalista (não há dúvidas que seja a candidata à “potência econômica mundial” mais promissora), mas para adquirir este status, escraviza seus cidadãos, regredindo vertiginosamente no quesito consciência.


Um muro é uma escolha para a visão, porque podemos decidir qual lado do muro queremos ver. Ele é um leque de possibilidades que se limitam. Então, a partir disso, passo a discordar, em partes, com o que me ensinaram na escola “... a sua liberdade termina onde começa a do outro...” Não que o respeito seja dispensável (de maneira alguma!), o que não pode ser dispensável é a visão do todo.


Após tudo isso, chego à conclusão de que não devemos derrubar os muros que nos cercam. Aí você poderia perguntar, mas como não, não são eles que limitam minha liberdade? Sim, são eles que limitam a nossa liberdade. Entretanto, podemos fazer melhor que destruir, não vamos desperdiçar o que já está feito, vamos subir nos muros.


E sobre os muros que nos cercam, poderemos ver muito mais longe, sem nos contentarmos somente com um ponto de vista. Quando conseguirmos ver o todo de cima dos muros, talvez possamos entender o significado de sabedoria e liberdade.


(Maio, 2006)


Imagem: Guernica, Pablo Picasso.

3 comentários:

Luiz Longo disse...

[i]Já comentei esse texto uma vez em Maio/06 e provavelmente meu comentário agora será diferente, pois os muros que me cercam são outros...[/i]

Os muros que construímos a frente de nossos olhos formam a barreira cultural, a dificuldade que temos em aceitar o novo, o diferente. Esses muros, como a maioria dos muros, nos protegem, mas também nos privam.

Admito que nada conheço de cultura. Porém, o que me interessa é o novo, o que está além dos muros.

QUINDIM disse...

Que bela postagem Sara, típicamente sua, pois vc sempre chega ao objetivo, com a sutileza das palavras.
Realmente, concordo os muros devem ser como apoios para nós, jamais devem ser derrubados mas sim ultrapassados, pois, como sempre costumo dizer "não existe nada ruim, sempre aprendemos algo". Beijos querida, até mais, ah e grata pelo comentário do Luiz no meu Blog! :) (Quindim)

Anônimo disse...

ooorrrra..

enqt a sarita treina jornalismo, agente vai tendo aula de geografia + atualidades + história \o/

poisé, oq seria dos gatos sem os muros? =O
heiuaheiaha e se os muros não existissem, oq substituiria a frase "estou encima do muro"? :)

acho q desde peqno aprendemos a subir muro, curiosos pra ver através do muro, talvez daí tenha surgido outro dito popular: já q gatos estão direto encima do muro e, temos curiosidade em saber oq tem do lado de lá do muro.. "a curiosidade matou o gato" que caiu do muro e morreu para todo o sempre.. óóóó ;~~

existe prefeitura com muros? nunca vi uma ao menos..