05 julho, 2007

Delírio



Os olhos arregalam-se pra tentar compreender, mas não entendem muita coisa. Tudo lá embaixo vai ficando cada vez menor. Onde estou, que visão é essa? De repente, percebo que estou cercada de azul, algodões brancos e luz.
Procuro me ver, mas não consigo enxergar nada além dos meus braços e mãos, completamente estendidos para baixo. Percebo que há alguma coisa muito estranha, sinto-me flutuando. Tento me olhar mais uma vez e a surpresa: sou um balão! Minha barriga está inflada como a lona de um balão de ar quente, meus braços e pernas funcionam como suas cordas.
As gargalhadas que sucedem essa visão são incontroláveis. Meu Deus, sou um balão que está subindo sem parar! Será que o feminino de balão é balona, ou, baleia? Ou será que é um substantivo invariável, exclusivamente masculino? Cada idéia sem nexo. Isso não pode ser real.
A lembrança de realidade me faz ouvir um pluf! Agora estou em queda livre. Que droga... não deveria ter pensado no que era possível. O que via antes pequenino, está crescendo. O chão está chegando perto, muito perto.
Aperto bem os olhos e... ploft!
Não sinto dor e quando meus olhos criar coragem para se abrir, percebem que não há sangue ou pedacinhos de mim espalhados pelo chão. Há uma mandala em flor ao meu lado. Não sou mais um balão e sim uma geléia disforme. Penso em voltar a ser como antes, uma pessoa normal, imagem e semelhança de Deus, e pronto! Basta imaginar e meu contorno original vai se elevando de toda aquela massa amorfa.
Olho-me novamente e percebo que sim, eu sou eu como sempre fui. Corro à procura de um espelho pra conferir. Enfim, o alívio. Não sou mais balão de ar, nem geléia sem forma. Ufa!
Quando já me imaginava segura, sou puxada por um buraco em espiral que se abre sob meus pés. E agora, para onde serei levada? Chega de sonhos delirantes por hoje, é hora de acordar e ter um dia normal.
Imagem: A mandala in my garden, by Jorge S. Lincabur.

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